Áreas de interesse
Narrativa
Em Roteiros: do roteirista espectador ao espectador roteirista, Patrícia Dourado aborda a narrativa sob a ótica dos processos de criação, que significa olhar para as obras pelos processos e para a narrativa por via do seu movimento criador. A autora conta que esse desejo foi motivado principalmente pela insatisfação diante de alguns estudos da narrativa no cinema, baseados em dicotomias como filme narrativo / filme não narrativo, filme com roteiro / filme sem roteiro. Para Dourado, interessava pensar a narrativa e o roteiro em sua diversidade de manifestações e diante da observação das práticas de cineastas diversos, entendidos, ao mesmo tempo, como criadores e espectadores. Para isso, dedicou-se à composição de um corpus de estudo complexo, composto por cineastas como Eliane Caffé, Anna Muylaert, Leonardo Mouramateus, Marcelo Gomes, Karim Ainouz, Alê Abreu e Cao Guimarães. Além da teoria da criação de Cecília Salles, a autora articula ao estudo também a teoria da narrativa de Paul Ricoeur na relação entre tempo e narrativa, pela qual o filósofo concebe a continuidade da criação no leitor/espectador; os estudos de Paulo Freire e Vilém Flusser acerca dos processos de leitura que antecedem a escrita; de Vítor Reia-Baptista e Mirian Tavares acerca da literacia do cinema; e de Jacques Rancière sobre o espectador emancipado. Juntos, estes autores são as bases para uma abordagem da narrativa em rede, que reflete sobre as práticas dos cineastas e que inclui os espectadores como criadores do processo (e vice-versa). Esta visão da narrativa junto ao estudo das práticas de roteiro conduziu o livro a uma reflexão acerca do conceito de roteiro como matéria móvel, a atravessar todos os momentos da criação e a funcionar como ferramenta de experimentação entre as diversas possibilidades de filmes, e de tradução (construção de pontes) entre os diferentes sujeitos e materialidades do processo.